Resumo
O artigo analisa a tensão entre o poder público e os trabalhadores comuns da cidade de Fortaleza, durante o século XIX. Em um primeiro momento os trabalhadores, em meio à tradição local, circulavam livremente pelo espaço público. Na segunda metade do século XIX, após intenso processo de modernização e aformoseamento da cidade, os populares foram obrigados a migrarem para a marginalidade, proibidos de trabalhar em nome da civilidade e dos bons costumes, com amparo no direito posto que institucionalizava tais limitações de circulações. O objetivo do texto é entender como o processo de afastamento dos vendedores e carregados de seus direitos costumeiros ao trabalho foi retirado paulatinamente de suas mãos. Conclui-se com esta pesquisa que as leis aprovadas pela elite política fortalezense beneficiaram a emergente classe comerciante em detrimento dos trabalhadores pobres, afastando-os do acesso à cidadania e aos seus direitos. Chama a atenção que o direito já consolidado da liberdade de ir e vir, amparado pela garantia do não significou impedimento para a aplicação de uma legislação local que limitava exatamente a mesma liberdade de ir e vir. Tal fato provoca inevitavelmente a discussão sobre a força do direito em sociedade fortemente patrimonialista.
Referências
BARBOSA, Marta Emísia Jacinta. Entre casas de palha e jardins: Fortaleza nas primeiras décadas do século XX. In: Pesquisa em História. v. 1. São Paulo: Olho d’água, p. 153-172, nov/1999.
BETHEL, Leslie. O Brasil no Século XIX: parte do “império informal britânico”? In: CARVALHO, José Murilo de; CAMPOS, Adriana Pereira (orgs.). Perspectivas da cidadania no Brasil império. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 15-36, 2011.
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: a elite política imperial. Brasília: ed. UnB, 1981.
CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994.
CERUTTI, Simona. A construção das Categorias Sociais. In: BOUTIER, Jean e JULIA, Dominique. Passados recompostos; campos e canteiros da história. Rio de Janeiro: Editora UFRJ: Editora FGV, 1998.
Código de Posturas da Câmara Municipal da Fortaleza. Fortaleza: Typ. Minerva, 1916.
CORBIN, Alain. Saberes e Odores: o olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
DICCIONÁRIO PRÁTICO ILLUSTRADO. 2 ed. Porto: Lello & Irmão Editores, 1928.
FLORY, Thomas. Judge and Jury in Imperial Brazil, 1808-1871 - Social Control and Political Stability in the New State. Austin: Latin American Monographs, n. 53, University of Texas Press, 1981.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Rio de Janeiro: Vozes, 1990.
GIRÃO, Raimundo. Geografia Estética de Fortaleza. Fortaleza: Edições UFC, 1959.
JANCSÓ, István: Na Bahia, Contra o Império - História do Ensaio de Sedição de 1798. São Paulo/Salvador: Hucitec/UFBA, 1996.
LEMENHE, Maria Auxiliadora. As Razões de uma Cidade: conflito de hegemonias. Fortaleza: Stylus Comunicações, 1991.
LINDENFELD, Jacqueline. Palavras Rituais nos Mercados Urbanos na França. In: Revista Projeto História. São Paulo: EDUC, n. 19, p. 31-44, nov./1999.
MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
MENEZES, Raimundo de. Coisas que o Tempo Levou... (Crônicas Históricas da Fortaleza Antiga). Fortaleza: Edésio Editor, 1938.
NABUCO, Joaquim. Um Estadista do Império. vol. 1. Rio de Janeiro: Topbooks, 1998.
PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reformas urbanas e controle social (1860-1930). Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha/Multigraf Editora Ltda., 1993.
THEOPHILO, Rodolpho. Libertação do Ceará: Queda da oligarquia Acioly. Fortaleza: Editora Fundação Waldemar Alcântara, 2001.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
VIANNA. Francisco José de Oliveira. O Ocaso do Império. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1959.