Resumo
Este trabalho objetiva investigar as intersecções entre os fenômenos da cultura do medo e do consumismo numa sociedade caracterizada, também, pela segregação urbana. Seu método de pesquisa é o hipotético-dedutivo, com abordagem qualitativa e técnica bibliográfico-documental. Como resultado, tem-se que diversos aspectos permitem estabelecer analogias entre a cultura do medo (e sua consequente segregação urbana) e o consumismo: i) ambos fixam seus alicerces no individualismo, na crença de uma sociedade desigual e na necessidade da segregação; ii) nos dois fenômenos a mídia cumpre um papel importante, difundindo o medo pela violência e a necessidade do consumo do supérfluo; iii) há um representativo e central papel da “indústria da segurança”, representado pelo consumo exacerbado por mecanismos de proteção, crescente nos últimos anos no Brasil; iv) por fim, o shopping é a representação física da intersecção entre os fenômenos estudados, representado ao mesmo tempo, o ideal de segurança e consumo no mesmo local.
Referências
BARROSO, Flávia Magalhães; FERNANDES, Cíntia Sanmartin. Os limites da rua. Políticas Culturais em Revista, v. 11, n. 1, 2018, p. 100-121.
BAUDRILLARD, Jean. A Sociedade de Consumo. Lisboa: Edições 70, 2011.
BAUMAN, Zygmunt. Confiança e Medo na Cidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
BUSCHMAN, John, Citizenship and Agency Under Neoliberal Global Consumerism. Journal of lnformation Ethics I, v. 25, n. II, 2016, p. 38-53.
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Enclaves Fortificados: A Nova Segregação Urbana. Novos Estudos. n. 47, São Paulo, p. 156-176, 1999.
CERQUEIRA, Daniel (coord.). Atlas da Violência 2018. Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2018. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/9/atlas-2018>. Acesso em: 29 abr 2019.
FORNASIER, Mateus de Oliveira. Sociedade de hiperconsumo, dignidade e superendividamento: uma abordagem hermenêutica. Revista do Instituto de Hermenêutica Jurídica – RIHJ, Belo Horizonte, ano 13, n. 18, jul./dez. 2015, p. 37-57.
FORNASIER, Mateus de Oliveira; ENGELMANN, Wilson. Superendividamento e dignidade: um enfoque hermenêutico do instrumental técnico de exacerbamento do hiperconsumismo na sociedade contemporânea à luz do Direito do Consumidor brasileiro. Revista de Direito do Consumidor - RDC, ano 22, n. 88, São Paulo, jul./ago. 2013, p. 259-292.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: o Nascimento da Prisão. 20 ed. Petrópolis, 1999.
FRIESE, Susanne. Self-Concept and Identity in a Consumer Society: Aspects of Symbolic Product Meaning. Berlin: Tectum Verlag, 2000.
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Urbanos e Mídia: O Imaginário sobre a Juventude e Violência no Brasil Atual. Revista Sociedade e Estado, v. 26, n. 03, set. / dez. 2011.
LEMOS, Tayara Talita. A segurança como paradigma de governo e a militarização do espaço urbano. Revista de Direito da Cidade, v. 09, n. 1, 2017, p. 1-26.
LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo. Lisboa: Relógio D’Água, 1983.
LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: A Moda e Seu Destino nas Sociedades Modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
MARTINS, Saádia Maria Borba. Medo e insegurança nas cidades/ a violência no uso dos espaços públicos. Revista de Direito da Cidade, v. 05, n. 02, 2013, p. 206-227.
MATHIESEN, Thomas. A sociedade espectadora: o “panóptico” de Michel Foucault revisitado. Margem, São Paulo, n. 8, p. 77-95, dez. 1998.
PASTANA, Débora Regina. Cultura do Medo e Democracia: Um paradoxo brasileiro. Revista Meditações Londrina. v. 10, n. 2, p. 183-198, jul. / dez. 2005.
PASTANA, Débora Regina. Medo e Opinião Pública no Brasil Contemporâneo. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 12, n. 22, p. 91-116, 2007.
POETS, Desiree. The securitization of citizenship in a ‘Segregated City’- a reflection on Rio’s Pacifying Police Units. Urbe: Revista Brasileira de Gestão Urbana, v.7 n.2, Curitiba, May/Aug. 2015, p. 182-194.
ROCHA, Álvaro Filipe Oxley da; CUNHA, Tiago Lorenzini. Por uma reescrita da criminalidade nas cidades brasileiras contemporâneas. Revista de Direito da Cidade, v. 10, n. 2, 2018, p. 620-661.
VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. Tradução de Olívia Krähenbühl. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
ZANETIC, André. A Segurança Privada no Brasil: Alguns Aspectos Relativos às Motivações, Regulação e Implicações Sociais do Setor. Revista Brasileira Adolescência e Conflitualidade. n. 03, p. 51-70, 2010.